sexta-feira, agosto 01, 2014

As árvores (L.F.Riesemberg)



Poderiam ser quaisquer tipos de árvores. Não importaria se fossem mais baixas, com mais galhos ou de uma folhagem diferente. Mas por algum motivo eram eucaliptos. Apenas dois, um ao lado do outro, altos e belos, com as copas balançando ao vento.

Eu tinha cinco anos quando reparei neles pela primeira vez, enquanto brincava naquela praça. Sentei sozinho na gangorra e fiquei olhando aqueles dois gigantes, e pensei que eles poderiam ser como pessoas, que enxergam, ouvem e pensam. O único som que se podia ouvir era o dos galhos de um batendo nas folhas do outro, como se estivessem dançando para mim.

Durante toda a minha infância, nunca deixei de admirar aqueles dois eucaliptos que só tinham um ao outro. Eu os vi lutando contra tempestades e permanecendo em pé quando o sol voltava a iluminá-los. E, desde que cresci, toda a vez em que passo por aquela praça tenho o hábito de admirá-los. “Vocês são parte da minha história”, eu penso.

Mas ser um adulto é muito duro, e há pouco tempo ocorreram alguns problemas muito graves comigo. No auge do sofrimento, tive ímpetos de acabar com tudo, inclusive com minha vida. Quando vi que nada mais dava certo e não havia outra saída, saí sozinho numa noite dessas, sem rumo, caminhando pelas ruas.  Quis o destino que, sem que eu planejasse, fosse cair exatamente naquela praça, diante dos eucaliptos. Contemplei-os, enormes, e perante aquela grandeza, minha pequenez ficou ainda mais evidente. Lembrei-me de quando era criança e ia nos brinquedos daquele lugar, e passei a ser torturado pelo sentimento de que desde então eu nunca tinha feito nada de bom na vida. Eram apenas erros, tentativas frustradas e planos adiados.

Os eucaliptos pareciam olhar para mim, um trapo de gente, e a carência de um conforto me fez aproximar e abraçá-los. Envolvi-os em meus braços, primeiro um, depois o outro e deixei que minhas lágrimas abundantes rolassem até o chão. Fiquei lá, tendo apenas os dois amigos como testemunhas do meu pranto.

Depois de um tempo ouvi uma voz. Em seguida, eram duas vozes, que produziam a melodia mais bela que um mortal já ouviu. Compreendi que eram os eucaliptos cantando para mim, em uma linguagem que não conheço. Diante da minha surpresa, levantei-me, enxuguei as lágrimas e perguntei: “O que estão cantando?”. Algo aconteceu e, de repente, passei a compreender tudo o que suas vozes diziam. Uma delas falou: “Somos seus guardiões, Felipe. Estamos cuidando de tudo o que você precisa”. Depois, a outra: “Daqui de cima vemos tudo, e já estamos te ajudando”.

Eu mal podia crer, mas aceitava tudo, em silêncio. As árvores continuaram com sua inconfundível cantiga: “Obrigado pelo amor com que pensa em nós, Felipe. Estamos retribuindo seu sentimento”.

Ajoelhado diante daquela maravilha, fechei os olhos e recebi uma agradável vibração, que percorreu toda a minha pele e me revigorou completamente.

Quando abri os olhos, eu ainda estava lá, diante dos dois eucaliptos, sentindo-me estranhamente bem disposto. As primeiras luzes da manhã clareavam tudo ao redor, mas não se ouvia mais a música das árvores. “Obrigado, meus amigos”, pensei, antes de me despedir, decidido a tentar, mais uma vez, encontrar minha felicidade.

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